Robótica Educacional: Contextualização e Entrevista

Na medida que os seres humanos evoluem como sociedade, o mercado e a produção industrial tendem a evoluir também, afinal de contas, sem essa precaução, não seria possível suprir as novas demandas exigidas pela sociedade. É nesse contexto, de constante evolução mútua e de utilizar novas tecnologias para interconectar e melhorar a eficiência da produção industrial, que vivemos a denominada 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0. Como principal característica desse período, podemos citar o uso de avançadas tecnologias, como a robótica e a inteligência artificial, para o desenvolvimento de fábricas inteligentes, casas inteligentes e até mesmo cidades inteligentes.

E como tudo nesse contexto está interconectado, a evolução de um setor acarreta na mudança de outro, e com a educação não seria diferente. O modelo tradicional de ensino já não é tão atrativo para essa nova geração y, uma geração nascida e banhada pela internet. E em decorrência dessa necessidade de mudança, surge o termo Educação 4.0.

A Educação 4.0 está diretamente relacionado à Indústria 4.0, uma vez que se trata da utilização de recursos tecnológicos nos meios educacionais como uma forma de transformar os processos de aprendizagem. Numa era guiada pela automação e pelo digital se faz fundamental que as instituições de ensino em geral sejam capazes de preparar alunos para o novo mundo, para se encaixarem em meio a todas as inovações.

Uma das novidades da Educação 4.0 é a robótica educacional, metodologia aplicada em ambientes que utilizam da robótica como um auxílio na educação. A robótica educacional, ou robótica pedagógica, tem como objetivo promover a integração de conceitos de diversas áreas, tais como: linguagem, matemática, física, eletricidade, eletrônica, mecânica, arquitetura, ciências, história, geografia, artes; levando os alunos a uma rica vivência interdisciplinar, aspectos que podem ser mais esclarecidos no artigo Robótica Educacional: Definição e Como Implantar na Sua Escola, escrito por Flávio Babos.

Além disso, a robótica educacional trabalha as principais habilidades desenhadas para esse contexto de Revolução 4.0, tais como flexibilidade cognitiva, negociação, tomada de decisões, inteligência emocional, colaboração, pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas complexos. Com uma metodologia ativa de aprendizado baseado em problemas é possível observar o impacto positivo que a robótica educacional proporciona na carreira acadêmica e profissional dos jovens. 

Dessa maneira, visando a explorar melhor essa temática, buscamos entrevistar um profissional docente da área. A partir de algumas perguntas que trazem à luz a robótica educacional no cenário brasileiro e a viabilização dessa metodologia, o professor Diógenes Souza discorrerá sobre o seu ponto de vista na seção abaixo.

Apresentação do entrevistado:

Professor Diógenes Souza, nascido e residente em Caruaru-PE, formado em Letras (Licenciatura em Língua Portuguesa e Espanhola) pela FAFICA, pós-graduado em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Espanhola pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), e Pedagogia Digital e Inovações Tecnológicas também pela UCAM, Diógenes Souza Freitas é professor do Colégio Diocesano de Caruaru desde 2009. Atualmente leciona as disciplinas de Língua Espanhola e Robótica Educacional, além de ser Coordenador auxiliar de TE (Tecnologia Educacional) e também prestar a essa instituição assessoria pedagógica relativa às metodologias ativas e ensino híbrido.

Foi um dos organizadores do Arduino Day Caruaru 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019, publicou dois livros (O que alimenta a vida e Entressafra) e organizou e traduziu o livro O Talismã e outros contos. Também mantém um canal no Youtube com mais de 3 milhões de visualizações e 40 mil inscritos, no qual grava vídeo aulas de Espanhol.

Possui a certificação “Google Certified Educator” em todos os níveis existentes (Level 1 e 2), que comprova o conhecimento, habilidades e as competências avançadas necessárias para a utilização e integração das ferramentas do Google for Education. É um Treinador Google, o que lhe permite dar formação a outros educadores. E, também, é um Microsoft Innovative Educator.

Entrevista:

O senhor acredita que disciplinas de robótica podem ser de fato inseridas no ensino público brasileiro ou isso é apenas utopia?

Sim, acredito. A robótica educacional pode ser contemplada nos currículos da educação básica, desde que haja um bom planejamento. Apesar de nem sempre ser compreendida, a robótica na educação básica permite o desenvolvimento de habilidades muito exigidas hoje e que se tornarão cada vez mais fundamentais numa sociedade e mercado de trabalho futuros. A grande questão, quando falamos de ensino público, está nas políticas públicas. Se houver a inserção da robótica na matriz curricular, uma boa formação docente e o engajamento de toda equipe gestora, o sucesso de uma disciplina dessa é praticamente garantido. Há interesse e curiosidade dos estudantes pela área, e se pensarmos, o investimento não precisa ser tão grande. Às vezes, é possível desenvolver um projeto utilizando sucata e metarreciclagem. A robótica pode ser um meio de inclusão social, e pode dar oportunidades de revelar talentos que jamais seriam revelados sem ela.

Existem já no mercado alguns kits para construção de robôs, com foco em crianças mais novas. O senhor acha válido o uso dessas ferramentas, de modo a fornecer para as crianças um primeiro contato com a robótica?

Acredito que tornar a robótica algo acessível é muito válido. Há diversos kits e materiais que cumprem a proposta de apresentar a robótica de modo lúdico e atrativo. Muitas desses kits são produzidos com muito cuidado, rigor e atenção às questões didático-pedagógicas, e isso é muito bom. Porém, infelizmente, há uma alta exploração comercial, o que muitas vezes torna os kits muito caros e inviáveis para a realidade da maioria das escolas. Kits bem produzidos e com valores justos são muito bem-vindos, porém, não acredito que apenas eles sejam suficientes. É preciso que haja um professor bem preparado para ultrapassar os limites que todo kit apresenta. O kit deve ser apenas a porta de entrada para um mundo infinito de possibilidades.

Como profissional atuante na área de ensino da robótica, quais as principais  dificuldades que o senhor identifica como educador que impedem que os jovens tenham um contato maior com a robótica?

De início, eu citaria os mitos que giram em torno da robótica. Muitas vezes há uma crença de que é algo difícil, caro, ou que é coisa de nerd, coisa de menino. Além disso, é preciso que as políticas públicas pensem na robótica não como uma vitrine para autopromoção. A robótica não pode ser um adereço que os sistemas de ensino e as escolas usam para fazer publicidade. É preciso que se pense de forma séria, que se estruture um bom planejamento para que não seja apenas mais um projeto que foi iniciado, mas que por falta de gestão, se torna “mais um projeto” frustrado. Assim, penso que quem mais torna distante o acesso dos jovens à robótica são as escolas e os sistemas de ensino mal intencionados e mal gerenciados.

O senhor crê que as instituições de ensino, como as escolas, por exemplo, estão mais atentas a esse mundo da robótica e da automação? Elas proporcionam o devido suporte para um ensino de qualidade, que instigue cada vez mais os jovens a buscar esse mundo tecnológico?

Infelizmente, como falei, há uma instrumentalização da robótica como meio de propaganda. Uma escola que oferece robótica normalmente se destaca em detrimentos das que não a ofereçam. Claro que isso não é regra. Temos muitos exemplos no Brasil de escolas e sistemas de ensino público que adotaram a robótica de forma séria e bem planejada. Mas acredito que hoje há uma consciência muito maior em relação à importância real e as contribuições que a robótica pode trazer, não para a escola em si, mas para os estudantes, que são o real foco da educação. Acredito que há escolas e, principalmente, professores que, de maneira muito dedicada, se empenham em ajudar os jovens a despertarem para essa área da tecnologia tão importante.

Por fim, na sua opinião, qual o impacto que a robótica tem na construção acadêmica dos alunos?

De início, eu pontuaria o trabalho em equipe. Acredito que a robótica educacional se destaca por proporcionar um ambiente colaborativo. Também destacaria a importância com a concentração, que é muito exigida. Os estudantes aprendem que errar é uma das partes do processo de construção. A robótica estimula a criatividade, o poder de decisão e até de insistência. Sem dúvida, a robótica ajuda a desenvolver habilidades de lógica e matemática, o poder de reconhecer padrões, o poder de depuração, decomposição. Enfim, ajuda a desenvolver um pensamento computacional.

 

Postagem e entrevista escritas pelo voluntário do Capítulo Gabriel Lacerda.